Habituei-me à nossa rotina, a ter-te comigo a toda a hora, a dar-te beijos quando bem me apetecesse e a receber mimos quando menos esperava. Sentia que tínhamos tudo controlado, tudo estável e tudo bem resolvido. Amava-te mais do que alguma vez amei alguém e sentia esse amor retribuído. Nunca duvidei, nem mesmo agora, que o teu amor por mim foi sempre verdadeiro. Mas é como se diz, "gostar não chega". É preciso confiança, mas, para ti, confiar nas pessoas é sinónimo de decepção. Não te censuro. Já passaste por muito e tornaste-te uma pessoa fragilizada, com medo de amar, receio de não ser correspondido, pavor de voltar a ser apunhalado pelas costas. Tentei de tudo para não dar um único passo em falso, para não te magoar, para não sentires a (pouca) confiança que depositaste em mim traída. Mas nada do que eu fiz foi suficiente. Talvez não estejas ainda preparado para te entregares a alguém de corpo e alma, ou talvez essa tua mania de 'fazer tempestades em copos de água' seja inata.
Custaram-me severos dias, inúmeras lágrimas e infinitas noites passadas em claro para tomar uma decisão. Vou afastar-me e, no que depender de mim, nem vais dar pela minha pessoa neste conjunto de ruas onde infeliz e claustrofobicamente habitamos os dois. Não vais ouvir falar mais de mim. Vou, inclusive, apagar o teu contacto para resistir a tentações e avisar os nossos amigos em comum para não referirem mais o meu nome perante a tua presença. Vais ter o espaço e o tempo que precisas para organizar essa tua cabeça pequenina, coberta por esses lindos caracóis que eu tanto adoro ter no meu colo...
Dizem que o tempo está para os amores, assim como o vento está para os incêndios. Apaga os fracos e ateia os fortes. Sim, de certa maneira, o que estamos a fazer é sujeitar o nosso amor a uma prova fatal. E eu estou a rezar a Deus, a pedir desejos às estrelas e às pestanas que vão caindo, a fazer figas e a implorar a todos os santos que o nosso amor seja um dos fortes.
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