(…) Pego numa folha de papel e tento escrever qualquer coisa. Não sei bem o que escrever; está tudo a acontecer ao mesmo tempo e, para contar isto tudo, nem todas as folhas de papel do mundo chegavam.
Talvez escreva sobre aqueles tempos em que tinha sempre um sorriso estampado na cara e em que me sentia bastante segura ao lado de ‘grandes’ pessoas. Faço um esforço para me lembrar das razões desses sorrisos ou dessas tais “grandes pessoas”. Não. É um passado muito distante para me conseguir recordar; não tenho nem uma vaga ideia desses tempos. Faço um traço sobre o pouco que tinha escrito.
Talvez escreva, então, sobre tempos bem presentes. Tempos esses que são caracterizados por inúmeras lágrimas e sorrisos inexistentes ;$ . Não. Também não me apetece falar sobre isto. É algo que eu quero esquecer e arrancar do pensamento. Faço grande risco sobre o pouco que tinha escrito.
Pouso a caneta e olho pela janela. Todas as pessoas lá fora parecem ser felizes. Volto a pegar na caneta e tento escrever sobre a felicidade dessas pessoas. O meu olhar fixa-se, então, no sorriso e no olhar de uma criança. Tento compreender a razão do brilho no seu rosto. Não. Mais uma vez não consigo. Explicar o significado da palavra “felicidade” nunca foi a minha especialidade. Risco com muita força o que tinha escrito sobre a felicidade.
Ligo a TV, à procura de alguma inspiração ou de um tema para escrever. Passo por todos os canais e a única coisa que consigo perceber é que estou a perder o meu tempo; a televisão só mostra concursos televisivos, programas sobre a vida inteira das SUPER-SUPER-ESTRELAS, ou , pior do que tudo, filmes que já passaram na televisão umas 7 vezes e que, como se já não bastasse, só criam ilusões na cabeça das pessoas. Os finais felizes NÃO existem ! Desenho um enorme “X” nas palavras “final feliz”.
Desisto! Quando olho para a folha de papel pousada sobre a mesa, consigo finalmente perceber que não passa de uma folha cheia de riscos. E é isso que eu quero; passar um traço em todo o meu passado e construir uma vida completamente nova. Rasgo o papel com toda a força e deito-a no lixo. Tudo o que se passou até agora vai ser esquecido e deixado para trás. Pela primeira vez, vou fazer aquilo que EU realmente quero e não o que os outros desejam.
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